sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

NO MEIO DO CAMINHO...

O que você vai ser quando crescer?
Futurólogo, médium vidente, Madame Claude, aquela que vê o futuro na bola de cristal!
Convenhamos....
Ninguém sabe o que vai ser , a pergunta deveria ser: o que você quer ser quando crescer?
Sonhamos com o possível e o impossível. Embora acredite que podemos ser o que quisermos, nem sempre é assim. Queremos ir para um lado, a vida puxa pra outro. Achamos que estamos no caminho certo e vem um trem e atropela o desejo. Procuramos dar os passos que vão nos levar ao objetivo traçado e tropeçamos naquela pedra no meio do caminho. Desviamos dos empecilhos e caímos em alguma armadilha. Nos preparamos para chegar ao destino, aí falta teto e o avião tem que descer em outro lugar.
Quando criança, eu queria ser diplomata e, também, ser colunista do "Consultório Sentimental" de alguma revista.
Não sabia o que um diplomata fazia mas queria ver o mundo e, como era de uma família de poucos recursos, seria o modo perfeito de viajar, teria emprego e dinheiro (salário) que me permitiriam conhecer outras paisagens.
O "Consultório Sentimental" das revistas era meu refúgio nas aulas de matemática. Odiava a matéria e sou, praticamente, uma desconhecida para os números e vice versa. Nos conhecemos superficialmente, nunca dei intimidade. Sei o básico e isso dá pra administrar minha ignorância.
Tenho consciência de que fugi de algo que poderia ter facilitado minha vida mas, na época, tudo que eu queria era que o tempo passasse logo e soasse a campainha, anunciando o término do suplício.
Como eu não tinha super poderes e não detinha o controle do tempo, mergulhava nas revistas e colava nas provas.
Tenho um pouco de vergonha de confessar que trapaceava, que atire a primeira pedra quem nunca fez isso! Até agora ninguém atirou.
Voltando a vaca fria, queria escrever respostas para aquela coluna. Algumas vezes inventava perguntas e mandava. Juro! Queria que me respondessem, mas antes eu escrevia em meu "Caderno Sentimental" (eu tinha, de verdade), as minhas respostas. E, também, as respostas que eu daria, caso fosse a titular.
Lembro que uma vez escrevi pedindo conselhos sobre um namorado que não existia. Perguntei à fulana o que deveria fazer pra que meu namorado fosse menos insistente, pra que ele esperasse um pouco mais pela "prova de amor".  Dizia que não me sentia segura do seu afeto, que tinha medo de ser abandonada, engravidar e desapontar meus pais, mas que sentia vontade de consumar o ato. 
Essas questões assombravam as meninas da minha geração, não riam. Naqueles anos dourados, tudo era proibido, então era um rala e rola, encosta e vira, era um horror de tesão reprimido e culpa, muita culpa.
Enfim...
Não é que um dia, em plena aula de... raiz quadrada? regra de três? cacete à quatro? sei lá, não estava lá mesmo, me deparo com a minha pergunta? Quase gritei na sala de aula! Consegui me conter e pedi pra ir ao banheiro ( você era obrigada a pedir e rezar pra que deixassem, e se houvesse mesmo necessidade e não permitissem, você seria uma séria candidata a ter problemas na bexiga ou na imagem, porque faria xixi nas saias pregueadas). Permissão dada, sai correndo e me tranquei no "reservado".
-"Querida amiga.
Fico feliz que tenha me escrito em busca de ajuda, isso significa que você, ainda, não cruzou a fronteira que separa o certo do errado. (Como assim, senhora? Tem fronteira delimitada? Onde fica um e onde fica o outro?). Nós, mulheres, temos que ser fortes e resistirmos aos ataques à nossa integridade. (Será que ela estava se referindo ao hímen?) Hoje em dia, os homens vivem nos testando, querendo saber se somos aquelas que eles escolheriam para mãe de seus filhos. (O que tem a ver o c... com as calças?) Não caia nessa conversa, resista à tentação e procure alguém que seja digno do seu amor, que saiba esperar e que respeite seu corpo, sua honra. Acredite, ele existe e você vai encontrá-lo". E blá blá blá e tal........
Confesso que fiquei desapontada, esperava que ela me dissesse que eu deveria fazer o que meu coração pedisse e o que meu corpo desejasse. Entendia que eram outros tempos, outra  moral (hipócrita), mas não era o que nós, aquela geração, queríamos.
Acho que já tínhamos a semente da revolução sexual germinando e, decididamente, aquela resposta tinha sido escrita pela minha mãe que não queria me ver dando pela vida e, pior, ter que lidar com a filha "perdida". E eu tinha uns treze anos!
Voltei pra sala de aula e procurei no "Caderno" a resposta que me dei.
Eu sabia o que tinha escrito, só queria confirmar que as revistas jamais me dariam emprego, a "família tradicional" faria um escândalo! Pediriam minha cabeça em praça pública! E a diplomacia tupiniquim não admitiria uma funcionária tão curta e grossa. 
A resposta acabou com o meu futuro, com o que eu queria ser quando crescesse, forçou meu pouso.
Recolhi meus flaps e mudei a trajetória. Pedras no caminho...
"Querida amiga.
Pare de frescura!
Ou dá, ou desce!"

Um comentário:

  1. Muito boa!!!
    É um falso moralismo danado...ainda nos dias de hoje nos deparamos com essas pessoas q conservam um tabu q já nem existe mais!!!
    Acredito q para muitas outras coisas na vida essa resposta seria a melhor possível....
    "OU DÁ, OU DESCE!"rs
    Bjsss

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