quinta-feira, 11 de agosto de 2011

NARCOLEPSIA

- Vou te pedir um favor.
- Fala, coração.
- Prá começar, tenho nome, odeio essa coisa de " docinho, amor, benzinho".
- Não sabia, desculpe.
- Agora, já sabe.
- Não vou dar mais apelidos carinhosos mas, depois, não reclama.
- Se eu quiser reclamar, reclamo, sim.
- Credo, que bicho te mordeu? Acordou do lado errado da cama?
- Acordei com dois pés esquerdos e não enche o saco que eu nem tenho.
- Qual é? Tá de TPM?
- Tô, mas é Tensão Pós Matrimônio.
- Mas nós não somos casados!
- Exato.
- Não entendi.
- Parece que estamos casados há séculos!
- E... lá vamos nós. Despeja, vai.
- Tá vendo? É disso que eu estou falando.
- Filha de Deus, me dá uma pista, não tô entendendo nada.
- Não conversamos mais, não namoramos mais, agora tudo é menos.
- Mas não é assim mesmo? Com a relação mais estável, a gente relaxa e acalma.
- Acalma, nada, entra no piloto automático.
- Tá bom, o que você quer?
- Não se trata do que eu quero, não quero nada.
- Peraí, fiquei perdido.
- Novidade.
- O que você quer dizer com isso? Que eu sou sem noção? É isso?
- Tô dizendo que você precisa de um GPS prá te mostrar onde você está!
- Tô aqui, em pé, na cozinha, com você, porra!
- Tá vendo? Você é literal e se irrita com qualquer coisa!
- Para com os rodeios, diz logo qual é. E quem tá irritada é você.
- É você!
- Eu o quê?
- Lembra o que você fez, ontem à noite?
- O que eu fiz?
- Não lembra?
- Pelamordedeus. Eu lembro que cheguei antes de você, tomei banho, liguei a televisão enquanto te esperava, vi um jogo qualquer e você chegou.
- Depois, tô falando de quando eu já estava em casa, não me interessa o que você fez antes, mas depois, DEPOIS!
- Não grita que eu não sou surdo.
- Mas só ouve o que quer.
- Olha só, se você quer me acusar de alguma coisa, fala logo. Não vou ficar tentando acertar a loteria.
- Enquanto EU preparava o jantar, EU dava um jeito na casa, EU servia a mesa, EU lavava a louça, você cochilava no sofá!
- Tava cansado. É crime?
- Cansado do que?
- Cacete, trabalhei o dia inteiro.
- E eu? Ah, é, tinha esquecido, seu trabalho é mais importante do que o meu.
- Isso tudo é porque cochilei?
- Não, isso você faz todo santo dia.
- Isso o que? Cochilar ou essa outra coisa que não sei o que é?
- Essa outra coisa, cochilar só desencadeia o processo.
- Desisto. Ou você desembucha, ou paramos por aqui.
- Paramos o que? A conversa ou a relação?
- Tudo tem que ter dois lados, ou isso ou aquilo? Não dá prá ser mais simples?
 Facilita aí, vai.
- Facilito, sim. Lembra que eu disse que ia te pedir um favor?
- Quando?
- Hoje, agora. Antes de dizer bom dia.
- Você não deu bom dia.
- Pois é, meu bom dia foi "vou te pedir um favor". Na realidade, não vou te pedir nada, vou é dar uma ordem.
- Como disse? Você vai me dar uma o que?
- ORDEM!  Tem mais, ou você acata ou roda.
- Tô com a sensação que vou rodar, porque nem minha mãe me dá ordem. Mas, diga lá, só prá conferir.
- Digo, sim, e preste bastante atenção: quando estiver muito cansado, o que vem acontecendo com frequencia, não encoste sua arma engatilhada em mim.
- Tem a ver com transar comigo?
- Tem a ver com transar e você pegar no sono.
- Quer dizer que não posso dormir depois de transar?
- Não pode dormir é DURANTE e EM CIMA de mim!
- Tá bom, eu fico embaixo, assim você não reclama.
- Tem toda razão.
- Não tenho?
- Tem, meu caro. A porta da rua é a serventia da casa. RODA!


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O PATO E A FORMIGA.

Pato!
Finalmente, descobri a origem do homem.
Não estou me referindo a raça humana, falo do gênero masculino.
Alguém já reparou que o homem espirra água prá todo lado?
No banheiro, por exemplo.
Quando escovam os dentes, o espelho recebe as rebarbas de água com pasta de dente.
Ao fazerem a barba, o entorno da cuba fica ensopado de creme de barbear, pelos e, claro, água.
O chão, também, recebe seu quinhão quando lavam o rosto ou as mãos.
Chuveiro é pouco prá reter a água do banho, sobra sempre para o lado de fora, de preferência, fora do tapete.
Até o vaso sanitário parece pequeno prá eles, pinguinhos esguicham para fora do limite e gotejam direto para o chão.
Tem coisa pior na vida do que entrar no banheiro após ter sido usado por um homem?
Às vezes, tentam nos ajudar com a louça que se avoluma na pia. Começam lavando a louça e terminam escorregando nas poças que se formam no chão da cozinha.
A pobre da pia vira uma lagoa prestes a transbordar.
Parece que não têm percepção do rastro que deixam, que são cobertos de penas impermeáveis, é só se sacudirem que ficam secos e o que estiver em volta encharcado.
Quem não tem um espécime em casa? Seja pai, marido, namorado, colega, algum deles já passou em nossas vidas.
Não há coisa mais irritante do que ter que secar as enchentes sempre que se aproximam de qualquer coisa líquida. É como enxugar gelo. Você vira as costas e, pimba, lá vamos nós, de novo, limpar a lagoa que o patinho deixou.
Depois de extensa pesquisa, exaustiva análise, estudos avançados, cheguei a conclusão que o gênero masculino é desprovido de sensibilidade à água.
Eles até tocam nela, mas ela bate neles e é repelida como se batessem em vidro, escorre ou se espalha sem que o dito cujo perceba a tsunami que provoca.
Uma amiga diz que é porque o homem tem quem limpe sua sujeira, que é cultural. A mulher se dispõe, desde priscas eras, a cuidar da casa e do seu animalzinho de estimação.
Vem cá, se eu tivesse um animal prá cuidar, com certeza seria um de quatro patas, não uma ave de duas.
Reparem bem, o pato sempre se sacode e espalha a água ao seu redor, já que suas penas não as retém.
O pior é que não há jeito de treinar o patinho, seu cérebro não registra "não espalhar água". É tarefa impossível!
Quando leio que água é um bem finito, que há que se economizar, que vai faltar, que o desperdício vai acabar com ela, tento fazer minha parte. Mas de que adianta tanta preocupação se, ao entrar no banheiro, vejo exatamente o contrário. Se quando olho prá pia e para o chão vejo litros dela se espalhando, à toa.
Tenho pesadelos, sonho que vou acordar e estarei boiando na piscina que se tornou minha casa.
E acordo gritando: "olha a água!".
Comecei a desenvolver a "síndrome de final de semana". É quando o trabalho triplica, porque eles vão ficar mais tempo em casa, consequentemente, mais água prá secar.
Sexta feira já começo a rezar prá que aquilo termine logo.
E se reclamo, ainda sou implicante. Mas se não limpo sou relaxada.
Trabalho só aparece quando não é feito. Se você mantém tudo limpo e organizado, não tem do que reclamar. Só que as coisas não se fazem, são feitas.
A roupa não se limpa sòzinha, alguém as lava. As camas não são feitas quando você pisca os olhos e o pó não desaparece quando mexe o narizinho.
Casa é trabalho eterno e desgastante porque, além de não ser valorizado, não aparece quando é feito.
E essas avezinhas, tão bonitinhas, são as maiores causadoras do stress.
Na outra encarnação quero ser "pato".
Cansei de ser formiga.