segunda-feira, 10 de outubro de 2011

DE SALTO ALTO

Não tenho medo de ser ridícula, tenho medo de ser patética.
Não ligo se o salto quebrar na hora mais inconveniente, me incomoda descer do salto e me esborrachar.
Quando espero muito e não acho nada, me enraiveço. Aprendi que acreditar pode ser bom mas pode ser, também, estupidez.
Acredito, de verdade, que todo mundo é capaz de ser generoso, amável, mas sei que todos nós temos demônios controlados, reprimidos, escondidos.
Alguns desses diabinhos são simpáticos, travessos, outros são violentos, perigosos e, por vezes, indomáveis.
Eles habitam um lugar escuro e esquecido, até serem libertados das masmorras.
Geralmente nos apoiamos em algum fator que "independe da nossa vontade" para liberá-los.
Temos desculpas clássicas para escudar o descontrole: bebemos além da conta, sofremos calados por tanto tempo que a panela destampou, aguentamos provocações, engolimos maus tratos, tudo desculpa para o demônio aflorar. Acontece, meus amigos, que soltamos os bichos porque queremos e aí, vamos combinar, arquemos com as consequências sem culpar ninguém.
Todo mundo tem o direito de mostrar suas imperfeições, somos humanos, caramba! Erramos, enganamos, mentimos, despistamos, traímos, faz parte do pacote que somos.
Por que teríamos que ser santos? Não somos. Alguns que foram canonizados, sofreram horrores e isso me parece uma patologia. Nada contra os santos, sou até devota de um, mas, cá prá nós, salvaram a humanidade? Que nada, tá cada vez pior.
Mae West, uma atriz que foi um escândalo prá sua época - diga-se de passagem que não sou daquele tempo, embora já tenha uma longa estrada- enfim, essa mulher sem amarras dizia: "Quando sou boa, sou muito boa, mas quando sou má, sou melhor ainda"! Preciso traduzir?
Não tenho pudores em me expor, mas não permito que me exponham sem meu consentimento. Sou transparente até o momento que embaçam a minha vida, aí, colega, é cada um por si e eu vou botar meu exército no campo de batalha. Não procuro conflito, mas não fujo da raia. Farinha pouca, meu pirão primeiro.
Tento não machucar quem não merece, às vezes escapa, mas procuro não fazer mal aos outros. A culpa católica me cobra noites de insônia. Tenho pesadelos, me assisto ardendo nas brasas do inferno, isso quando consigo dormir. Como não quero perder uma noite de sono, evito a chateação.
Não sou boazinha, é que não gosto de estar presa a nenhuma emoção que me faça mal. Simples assim. Se me faz mal agir de determinada forma, não ajo em benefício próprio. E ainda faço um favor ao outro, poupando o melodrama. Parece insensibilidade, né? Egoísmo, talvez? Que tal mudar o foco? Olhar o outro e não a mim mesma? Mas, diga lá, se eu não cuidar da minha sanidade, quem vai cuidar? Elementar, meu caro Watson.
Posso estar muito enganada e, se for assim, minha vida inteira foi um grande erro, mas tenho cá prá mim a quase certeza de que quem não pensa em si, antes de pensar no outro, está fadado a ser um mártir. E um chato!
Esse negócio de doar-se sempre, dar sem medida, se entregar e reforçar o ego alheio só funciona na literatura, nas novelas, filmes e afins. Isso é ficção. Porque, meu caro amigo, se você não tiver uma boa provisão de amor próprio, o fundo do poço será raso prá seu mergulho. Se nada me derem de volta, serei um balão vazio, não vou subir. Como saco vazio não fica em pé...
Tive grandes paixões em minha vida mas a falta delas não me fez desmoronar. Sofri o tempo necessário, vivi o luto, perdi quando ainda não tinha acabado prá mim. E daí? Morri por causa disso? Entrei para um convento, me despedi da vida, de mim? Nananinanão. Ressurgi mais forte, mais preparada prá sofrer menos, entendi que é assim mesmo, não existe tempo igual, amor igual, intensidade igual, nada é igual entre pessoas. Se eu amava mais do que era amada, não questionava, não pretendia que o outro me desse o que não conseguia, aceitava ou não, mas não perdia a consciência de mim, jamais precisei do olhar, do carinho e da atenção do outro prá ser quem sou.
Não sou exemplo, eu sei, não tenho exemplos, não me espelho em ninguém porque minhas experiências são distintas, mantenho um instinto de sobrevivência feroz. Graças ao bom Deus!
No dia em que me virem sendo capacho de alguém, seja quem for, assistirem alguém limpando os pés em mim, me internem porque já estarei em avançado estágio de loucura.
Sou suscetível, como todo mundo, de vez em quando dobro os joelhos com o soco que me atinge, vejo estrelas como em um desenho animado, visualizo aquele "POW" no balão do quadrinho, o olho fecha de tão inchado, o sangue escapa das veias, não minimizo a dor da pancada, sinto. Mas, pera lá, vou engatinhar? Já passei desta fase. Se não sou quadrúpede tenho que ficar em pé, até a próxima porrada. Não desvio, não, aprendo a cair em solo mais macio. Da próxima, me levanto mais rápido.
Portanto, não se engane, a vida é uma sucessão de trombadas, e a palhaça aqui aprendeu a dar cambalhotas.
Ser ridícula ou ser patética? Se o "amor é o ridículo da vida", sou ridícula.
Ser patética é esperar que alguém me ame por meu amor ainda não ter terminado, me humilhar mendigando um carinho forçado, fazer o objeto do meu amor sentir pena de mim e me oferecer a última gota do meu próprio veneno, aquele que vai matar em mim qualquer possibilidade de me respeitar. Definitivamente, patética, não fui, não sou, nem serei, mesmo.
E entre quebrar o salto e descer do salto, prefiro quebrar. Um bom sapateiro resolve um salto quebrado. Já descer do salto, diminui a estatura.
Como sou bastante alta por dentro...