quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

DESCARREGO

Estou por um fio de cabelo. No limite, pronta pra camisa de força. Não tá dando pra aguentar.
Juro que tento, que faço cara de paisagem quando a pressão aperta, mas tá ficando difícil.
Sei que todo mundo tem problemas, eu mesma tenho um caminhão, mas não deveríamos lidar cada um com o seu e parar de descarregar o trem nas costas do outro?
Acho falta de educação, alguém cavar um buraco e empurrar os outros prá dentro. Não fui eu que cavei, meleca!
Ajuda não se nega, sou solidária, mas é preciso mostrar que se quer ajuda e não despejar seu peso enorme encima de quem está ao lado, no caso, eu.
Sou a rainha das ouvintes, me disponho, sempre, a buscar soluções que possam melhorar a aflição do outro mas, pera lá, resolver a vida de quem escolheu um caminho errado, não!
Não venha me responsabilizar pelos seus deslizes, né?
Nem queira cumplicidade nos atos que você, sòzinho, decidiu praticar.
Quer dizer que, quando você decide o que é certo e o que é errado, sabe o que está fazendo mas, quando, o que você achava certo, dá errado, eu tenho que segurar a peteca porque você tá desestabilizado?
Fácil, não? E cômodo!
Tenha vergonha na cara e arque com as consequências do que faz!
Não me convida pra festa mas quer que eu limpe o salão? Não vai acontecer!
Sou miúda, mas sou dura, mesmo. Vou morrer vara verde, envergo mas não quebro.
Tá pra nascer quem me tire a gana de me defender. 
E sei me proteger, bem demais, dos coitadinhos que tentam entrar na minha vida à força.
Fecho a porta na cara!
Não sou galinheiro pra me cobrir de penas!
Também queria que as soluções caíssem do céu, mas como sei que, de lá, só vem chuva e coco de passarinho, procuro saída em outro lugar.
Não vou deixar mais que você me afogue nessa canoa furada.
Tá querendo ajuda? Tô aqui. Tá querendo passar adiante o problema e ficar sentado esperando? Tá na posição certa, espere sentado!
Vou sair do seu radar pra ver se você sai da sua zona de conforto. Quem sabe, assim, você entenda, de uma vez por todas, que não sou sua rede de proteção.
Eu, também, de vez em quando, preciso de colo, procuro um ombro, aceito uma mão estendida, mas você é diferente, se atira no colo, pendura no ombro, agarra a mão e puxa o que vier junto.
Cansei de ser a sua viga mestra, seu suporte emocional, sua fortaleza. Você não aprende porque não quer, porque tem quem se penalize.
Vou te contar uma novidade: a vítima é sempre o mais forte, porque aprisiona, porque manipula, porque detém o poder de controlar o outro pela pena. Viu como aprendi? Você me ensinou.
Seu tiro, de hoje em diante, vai sair pela culatra.
Quero que você se dane, tô pouco me lixando. Não conte comigo pra recolher os pedaços da tua vida.  Se arrebentou a corda, foi porque você forçou além do limite.
Se, algum dia, tiver a coragem de assumir as consequências de seus atos, se levantar a cabeça e olhar de frente seus erros, se abrir o peito e se preparar pra luta, vou ser a primeira a estar ao seu lado.
Mas, por enquanto, preciso de paz, preciso recolher os caquinhos de mim que você espalhou, preciso abrir espaço pra que você cresça.
Não me queira mal quando digo que é para o seu bem. Mas se quiser me odiar, fique à vontade.
Vai facilitar a minha decisão.
Investi muito tempo da minha vida no seu erro, tá na hora de errar sozinha.
Mas não se preocupe, dos meus erros eu sempre cuidei, nunca tive ajuda.
E, como você foi, e é, o maior deles, dispenso sua participação na solução.
Tudo o que eu te desejo é que vá catar coquinho em outro terreno.
Vou cuidar da minha lavoura, que o tempo de plantar chegou, enfim, pra mim.
Vou regar meu jardim, tirar as ervas daninhas e esperar minha primavera chegar.
Se Deus quiser, sem você!
E, antes que eu me esqueça, quando sair apague a luz e jogue a chave no lixo porque vou mudar o segredo. Sua carga pesada eu resolvo com um bom defumador. Até!

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