quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

EM BRAILLE!

O. K.
Vamos começar, mais uma vez. Até quando?
Não, eu não estou brigando, não vou me exaltar, não de novo.
Qual parte do "Por favor, pare", você não entendeu?
Me diga, eu tento explicar.
Toda vez é a mesma história.
Começamos a conversa partindo da última que tivemos e, ao invés de evoluirmos, voltamos, cada vez mais, ao início da relação.
Meu amor, passado é passado, a palavra já diz tudo. Passou, não volta.
Por que, sempre que há um desentendimento, temos que rebobinar nosso filme?
Quando é que isso vai desenrolar, progredir?
Eu fico querendo saber se vai haver um final. Será que terá happy end ou será que eu morro antes do filme terminar?
Não é verdade que os problemas não mudam. Na realidade, eles não mudam porque não resolvemos.
Viciamos a tal ponto nesse erro que não conseguimos mudar o foco.
Carpinejar... Como? Quem é esse? Não é esse, é um escritor!  Bem... Ele disse que "toda briga é sempre a continuação da anterior".
Tá legal, aceito o argumento. Mas, no nosso caso, começamos com a atual, vamos à anterior, e à antes dessa, e antes e assim sucessivamente. É um jogo jogado ao contrário. Rolamos os dados e não avançamos, estamos sempre andando pra trás. É um tal de "mas naquele dia você disse isso, como é que ontem você fez aquilo?, ou "em mil novecentos e bolinhas, você queria assim, hoje você quer assado", ou ainda " você está mudada, você não era assim". E qual é a novidade? Você devia agradecer por eu ter mudado. Mas eu não mudei do jeito que você queria, né? Aí, sim, seria uma coisa boa. PRA VOCÊ!
Dá pra entender que somos dois nesse negócio? Temos sociedade, somos parceiros no jogo, cúmplices no crime. Portanto, não me aponte o dedo, como se eu fosse a única responsável pelo mau andamento do processo.
A questão é que a mulher acha que vai mudar o homem e o homem acha que a mulher não vai mudar. Não pode dar certo, a equação não fecha.
Queremos o que não temos, e o que temos tentamos transformar naquilo que desejamos.
Caramba, reconheça que somos diferentes um do outro e que isso não é, necessariamente, ruim.
Eu vim com minha bagagem, você com a sua e, se botamos no mesmo armário, foi porque queríamos que desse certo.
Não, eu não disse que não deu certo, cacete! Tá, desculpe, gritei só um pouquinho, mas é que você parece não querer entender.
Será que o que é dito não faz mais sentido? Será que teremos de desenvolver uma linguagem de sinais, um braille particular, para nos comunicarmos?
Lamento mas, quando nos conhecemos, eu já era grandinha, já havia amado antes, já estava na terra, vivendo, antes de você entrar na minha vida. Não comecei a existir depois do nosso encontro.
O que você quer, afinal?
Sem essa de me dizer que não quer nada! É claro que alguma coisa você quer.
Seria, talvez, que eu anulasse meu passado? Passasse uma borracha no antes e só lembrasse do depois? Representasse uma personagem em vez de viver quem sou?
Pois tire o cavalinho da chuva, eu mudei e vou mudar mil vezes mais, POR MIM, quando eu sentir que preciso.
Não vou me moldar na sua fôrma, esquece!
O que? Você tenta se modificar por minha causa?
Pois pode parar, não estou gostando da transformação. De qualquer jeito, não vai adiantar nada. O seu diabinho vai ficar trancafiado e inquieto e, um dia, vai pular na minha frente com o dedo na minha cara, dizendo: "Eu acuso".
Tô fora.
Nunca te pedi pra ser outra pessoa, nunca esperei mudança, o que eu espero é que nos entendamos e que acomodemos nossas diferenças.
Por que você insiste em me controlar?
Ah, não é disso que se trata? Então, tá.
Então porque você me diz que eu quero provocar os outros, que minha roupa não é apropriada, que meu perfume é excessivo, que isso ou aquilo?
Olha aqui, eu estou com você porque quero e, no dia em que não quiser mais, você será o primeiro a saber.
Consegue entender isso?
Não me venha com essa história de que não tem ciúmes e, sim, cuidado comigo.
Conversa mole pra boi dormir. Quem ama, confia. E eu jamais dei motivo pra que você desconfiasse.
Seu gostar de mim está ficando torto, tá me machucando. Isso não é ter cuidado!
Se toca!
Quer dizer que amar demais dá nisso?
Não existe uma medida exata?
Tem que ser, sempre, muito ou pouco?
E, quando se ama demais, tem que se extrapolar o limite?
Sabe o que mais?
Isso não é amor, é posse. E meu terreno tem dono, no caso, dona. Euzinha e mais ninguém.
O que fazer sem mim?
O que você quer que eu responda?
Já tenho muito trabalho administrando minha vida, e você ainda quer que eu cuide da sua?
Não estamos juntos pra que um carregue o outro.
Que tal me olhar como mulher e não como sua mãe?
Percebe que é impossível você se acomodar no meu ventre e jamais ser parido?
Vamos fazer assim...
Vamos nos preparar pra terminar essa conversa. Depois, terminar a relação.
Se chorar, agora, te dou um tapa.
E se me perseguir, te dou um soco.
E se tentar o suicídio, faz direito, tente e consiga.
Vai manipular a vovozinha!
Destampei, deu!
E, no meu braille, quando eu espalmar a mão bem na sua cara, entenda:
PARE!

3 comentários:

  1. Mãeeeeeee,
    EU AMEI ESSE POST!!!!!
    Me vi em várias situações!!
    Te amo muito!!

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  2. Li tudo! Você escreve, eu faço diário (mensário, anuário?). Cheio de humor, muito bonito, adorei! bjs Gotty

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  3. Tia...simplesmente S E N S A C I O N A L!!!!!
    Relacionar-se pode ser simples, fácil...o q mata é qdo vc se mistura com o outro e acaba se perdendo, perde sua identidade e pior, quer se "ocupar" moldando o outro ao seu jeito...aí, não há mais relação e sim patologia...rsrsrs
    Ai q preguiça me dá só de pensar na famosa "DR"...
    Um bjoooo
    PS: Ansiosa para ler o próximo!

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