quarta-feira, 22 de junho de 2011

E NA BUNADA NÃO VAI DINHA?

Tire o refletor de mim, eu confesso!
Sou uma viciadinha à toa, sou fumante.
Mas criminosa, perá lá, não sou.
Me infernizam a vida porque sou adicta de uma droga legal. Aceito. Melhor dizendo, engulo.
Mas não vou aceitar a hipocrisia das patrulhas que se dizem politicamente corretas.
Hoje, o cigarro se tornou a droga mais mal vista do planeta.
Vamos aos fatos.
Compro meu vício, legalmente, pago os impostos que me cobram por ele, faço isso à luz do dia e, mesmo assim, sou tida como um ser que não tem força de vontade prá largar uma coisa que faz mal e mata.
Não sou idiota, sei que o cigarro é uma droga letal, sei que prejudica o outro, sei que não devo incomodar os não fumantes com minha fumaça perniciosa, sei de tudo isso. Mas sei que álcool, que também é legal, é tão destrutivo quanto o fumo, ou mais.  Mas a cervejinha é liberada, é uma droga social.
O cigarro não me tira a capacidade de trabalho, não interfere nas relações,( se eu não fumar perto de quem não tolera), não prejudica o meu desempenho em nenhuma esfera. Ao contrário do álcool. A droga social acaba se tornando desagregadora. Quantos álcoolatras destruiram suas carreiras, suas famílias, sua vida? Quantos fumantes fizeram o mesmo? Nenhum. O fumante destrói sua saúde, não destrói a vida dos outros.
Quer dizer que descriminalizar o usuário de maconha pode, e sou totalmente a favor, entendo que doença deve ser tratada e não estigmatizada, mas o fumante de cigarro é tratado como vilão?
Tem alguma coisa errada nessa história!
Não faço apologia, não incentivo ninguém a se tornar fumante, não ofereço o primeiro cigarrinho viciante, não estimulo o vício enaltecendo as maravilhas que ele proporciona, ao contrário dos traficantes que oferecem a porta de entrada, gratuitamente, para fidelizarem suas presas.
Tô de saco cheio da hipocrisia geral!
O governo quer me ensinar como se vive, dizendo o que é certo e o que é errado. O certo, prá mim, é o que a lei permite. Errado é a corrupção, os roubos do dinheiro público, os desvios que políticos sabem tão bem fazer da verba prá saúde, educação, programas sociais.
Mas, sabe como é, quando flagrados com a mão suja, ou é uma briga política ou, então, é delírio dos outros, isso nunca existiu, embora as provas mostrem o contrário. No final, todos se safam e a gente entuba.
Os viciados em drogas ilegais, coitadinhos, são vítimas dos traficantes, não levando em conta que são eles que alimentam a roda do tráfico, que os traficantes só existem porque eles compram a mercadoria que vendem, e depois vêm fazer passeata pela paz! Dá um tempo!
Neguinho é contra a pena de morte, mas a favor do aborto. Igreja é contra o aborto e homossexualismo e abriga pedófilos, abafa desvios de conduta. Quantos filhos de padre existem por aí?
Trabalho escravo é proibido, e daí? Velhos, alguns não tão velhos, coronéis da política ainda mantêm a prática em suas fazendas compradas com o suor do povo. Mas eles podem. Trabalho infantil também é proibido, mas quem vai fiscalizar? Só quando aparece uma denúncia. A imprensa corre prá relatar e, dias depois, aquele jornal já virou banheiro de cachorro. Sujam de fezes a dignidade.
Tem os contra a matança de animais que não dispensam um filé sangrento. Os que são contra maus tratos mas não recolhem a sujeira que seu animalzinho deixa prá outros pisarem. Afinal, o animal é o dono que não respeita o espaço público, passa a responsabilidade aos garis. Os que mancham de tinta casaco de pele mas sequer visitam um abrigo de animais. Tem os que recolhem dinheiro através de ONGs e usam em beneficio próprio. Conhece essa história?
Sei de alguns que se dizem despojados, que não se importam com roupas ou bens de consumo, mas não pescam seu peixe, vivem muito bem abrigados nas costas de papai e mamãe, não pagam para morarem, comerem, não sabem o valor dos impostos, taxas, nada. Por que não são coerentes e vão viver uma vida monástica? É fácil ter seu carro, sua gasolina, seu apartamento, suas necessidades nem tão vitais, supridas pelos outros, mas é hipocrisia.
A lista do politicamente correto é extensa, vastos são os interesses qua a engrossam, mas, do meu ponto de vista, tudo que é muito politicamente correto, engessa, criminaliza, aprisiona.
O que eu faço da minha vida diz respeito a mim. Se não faço nada ilegal ou imoral, onde estou errada?
Nada do que é imposto é, necessàriamente, cumprido. Mas como gritam!
Sou uma cidadã cônscia dos meus deveres e direitos, sei o que posso e o que não posso fazer.
Sou extremamente rígida em relação aos meus limites, sei que meus direitos terminam onde começam os direitos dos outros. Não roubo, não mato (só me suicido com o cigarro), não trapaceio, não finjo ser o que não sou.
Só queria que meus direitos, também, fossem respeitados.
Se você não gosta de beijar cinzeiro, não me beije. Não gosto de beijar boca com hálito de bebida, não beijo, pronto! Agora, me colocar a pecha de sem vergonha, me tachar de poluidora, de irresponsável, quando seus carros poluem o planeta, suas atitudes são incoerentes, aí não, né?
Se você pretende ser um imbecil politicamente correto, comece no seu quintal, só então terá discurso prá encher o saco do outro. Comece parando com a bebidinha, a maconha, depois recolha as fezes de seu animal, não jogue lixo no chão, ajude um ancião, um cego, visite orfanatos, casas de recolhimento, prisões, denuncie abusos, não compre nada que seja pirata, pague seus impostos, arrume um sustento, proteja quem necessita, venda o carro e ande em transporte coletivo. Quando, enfim, se sentir apto a defender, não seu interesse, mas o direito do outro, aí sim, estará pronto para pedir ao outro que tente modificar sua vida em benefício da coletividade.
Você verá que o buraco é mais embaixo, implica em respeito ao próximo, em ser exemplo.
Antes de querer me policiar, me mostre que eu não estou certa, me diga onde está meu crime.
Gritar não me convence, me humilhar não vai dar força ao seu argumento, porque ele é vazio.
Portanto, confesso, sou fumante, politicamente incorreta, como todos nós, mas não sou hipócrita.
Pimenta nos olhos dos outros será, sempre, refresco. 

domingo, 5 de junho de 2011

AGENTE 00.......

Waldyr. Doutor Waldyr.
O agente 001 da minha vida.
O primeiro homem a me tocar, a me ver nua, indefesa.
O homem que me trouxe à vida.
Foi ele o primeiro a me dar um tapa na bunda, a ter essa intimidade comigo.
O primeiro a me fazer chorar.
Foi, também, o primeiro que enfureci com minha demora em aparecer.
Atrasei nosso encontro por dois dias, longos e suados.
Ele precisou sentar sobre minha mãe pra empurrar e forçar a minha saída.
Eu estava dormindo, confortável, sem saber que me esperavam do lado de fora.
Ele era o médico de família de meus avós e, depois, de meus pais.
Em meados do século passado, essa profissão existia de verdade.
Pneumologista, em uma época em que a tuberculose matava.
Mas era um tempo em que a especialização não era fechada em nichos, tinha-se que saber clínica geral.
E ele sabia do seu ofício, por inteiro.
Taí a resposta que você queria, aquela pela qual você me bombardeava, sem piedade.
Quem foi o primeiro homem de sua vida?
Pois foi ele.
Agora, se quer saber quem foi o mais importante, esperando que tenha sido você, lamento informar que não foi. Não é.
Para que uma pessoa seja a mais importante na minha vida, há muitos requesitos a preencher.
Por exemplo: posso viver sem ela? Bem, vivo sem você.
Preciso dela pra existir? Definitivamente, existo sem você.
Ela é a razão da minha existência? Meu querido, ela é muito mais rica do que você imagina, seu poder de compra não chega perto do que ela necessita.
É meu ar? Meu chão? Meus sentidos? Minha luz? Meu motivo pra acordar todos os dias?
Você, com certeza, não é.
Não procure ser aquele que me faz falta, pois não faz.
Não tente me fazer sentir culpa pelas respostas que não posso dar.
Não dependo dos seus olhos pra me guiar, não dependo de sua mão pra me conduzir.
Não acredito que uma pessoa possa se anular, a ponto de depender do afeto do outro pra, simplesmente, ser.
Gostar não significa se despir de sua pele pra vestir a do outro.
Você, talvez, esperasse de mim uma rendição total, que eu dissesse que era a pessoa mais importante da minha vida.
Respondo que a pessoa mais imprescindível da minha vida sou eu.
Só eu me conheço profundamente, completamente.
Só eu me faço falta, me empurro, me afasto dos perigos, me entrego a mim.
Só eu me amo sem cobranças, sem medo, sem vergonha.
Quando tenho alguém ao meu lado, me divido com ele, mas não abro mão de mim.
Meu espelho sou eu, não me perco em outra imagem.
Portanto, não queira ser o fundador da minha vida. Deveria bastar estar com você, mas não esqueça que não sou sua. Sou minha e vou ser sempre.
O primeiro homem foi importante porque me ajudou a chegar à vida, mas isso não fez dele meu dono.
Os outros que tive foram importantes, em seu devido tempo.
Você está sendo, por enquanto.
Mas, entre o transitório estar e o definitivo ser, eu sou a pessoa mais importante em  minha vida.
Waldyr. Doutor Waldyr, foi o agente 001.
Eu sou  a 000.