quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

EMPREGO VITALÍCIO

Acreditava na fórmula mágica.
Quando acontecia de as minhas meninas fazerem besteira, eu começava a contar, só isso.
Um, dois, e elas paravam na hora. Nunca cheguei ao três.
Eu dizia que elas não iam gostar se eu chegasse lá e elas jamais pagaram pra ver.
Se pagassem, eu não saberia o que fazer, não tinha um plano.
Até hoje, não sei qual castigo seria aquele que eu prometia. Mas funcionava e eu usava como se prometesse a antesala do inferno.
Não costumava dar palmadas, embora não tenha nada contra (que o governo me perdoe mas, de vez em quando, é preciso), porque minha mão inchava e quem merecia era uma delas e não eu!
De qualquer forma, era uma maneira de dar limite e ser respeitada.
Os psiqualquercoisa, têm muita teoria mas, é conceito universal, filhos muitíssimo problemáticos. Conheço, pelo menos, 35.672 deles.
Educar é o ó. Dá um trabalhão, é uma estiva diária, um desgaste insano, mas não dá pra delegar.
Tinha uma amiga que dizia ter pena das minhas filhas, que elas eram reprimidas!
Como ela não apitava nada com as crianças dela, que eram uns demônios, tomei aquilo como elogio.
Ela confundia repressão com limite e educação com interferência na personalidade.
Sempre respeitei a personalidade de cada uma, mas, ô pessoa, eu sou a mãe delas e não amiguinha! Meu ofício, como mãe, é ensinar, educar, orientar, dar régua e compasso, o desenho é delas.
E uso o verbo no presente porque SOU mãe. Assim como não existe ex filho, não existe ex mãe.
É tarefa pra toda a vida!
E, cá prá nós, pinto pia, tem que crescer prá cacarejar.
Antiguidade é posto, nasci primeiro e fim de papo!
Aqui em casa é pura democracia mas minha palavra é lei! Sou o Supremo Tribunal da casa e quem quiser que me aceite!
Se eu não botar um mínimo de ordem no galinheiro, raposa vem  e se farta!
Qual é!
Pitaco não aceito, macaco olha teu rabo! Ditar regra na casa dos outros é fácil, quero ver ser macho no seu terreiro!
Confesso que tive dias de desânimo, vontade de chutar o balde e fosse o que Deus quisesse, mas, nesses momentos, eu fazia a contagem prá mim mesma, me dizia:-" no três vai passar". Por vezes contava até 5.000, mas de três em três, e passava.
Há que se ter força e coragem prá encarar, diariamente. o desafio. É uma maratona eterna!
Sei que não vou conseguir a medalha olímpica porque cada dia é uma nova modalidade, não há tempo prá treinar, um dia é 100 metros rasos, no outro levantamento de peso, e por aí vai.
Não dá prá escolher o que fazer, faz-se!
Li, não lembro onde, que a boa mãe é aquela que não é mais necessária. Até entendo o conceito mas não concordo.
Compreendo que o filho assimilou o que lhe foi ensinado por atos ou palavras, firmou-se em suas bases e ganhou o mundo.
Mas quero crer que serei, sempre, o porto seguro, o cais, o aeroporto, o estacionamento, a vaga, o que quiserem!
Agora, quem precisa sou eu.
Preciso do conforto, da mensagem muda do olhar. de saber que o que eu plantei está sendo colhido com prazer. Saber que o que foi feito, e que continua em andamento, é obra de uma vida.
Filho é responsabilidade escolhida, optou-se por tê-lo.
Não planejei ser mãe e descobri minha vocação.
Adoro meu trabalho e é emprego prá vida toda, nunca vou me aposentar!
Recebo mais do que esperava, sou paga todos os dias com o que dinheiro algum pode dar.
Filhos criados, trabalho dobrado! Mentira! O trabalho é quintuplicado. As vidas se desdobram em mil interesses, o universo expande, não é mais casa, escola, curso, tudo que se pode controlar. A vida abre o leque e os problemas. Mas confio na estrutura que cimentei. Acredito nelas e na educação que dei. Tenho trabalho mas, também, recompensa.
Estou sempre disponível prá ajudar, quando chamada. Não resolvo por elas, não encaminho mais.
Lancei a seta, o alvo elas escolhem.
Confio em que criei pessoas que convivem com o certo e o errado e sabem a diferença.
Continuo contando até dois, porque não saberia o que fazer no três. Talvez, por nunca ter chegado lá.
Mãe é assim mesmo, não tem bússola, plano de vôo, não se orienta por estrelas.
Mãe vai mudando de rumo, não traça meta.
Filho não tem bula ou manual de instrução.
Mãe aprende no escuro e tenta iluminar o caminho.
Filho tenta trapacear, escorregar, fugir.
Mâe, às vezes, atrapalha, chantageia.
Filho, às vezes, quer testar, forçar o limite.
Mas, como diz o ditado, cada macaco no seu galho e o meu é um pouco mais alto, tenho uma visão melhor.
Enxergo bem e não sou trouxa. Quando vão com o fubá, já estou voltando com o bolo.
Mas, no fim do dia, deito minha cabeça no travesseiro e durmo bem.
Criei minhas filhas, se não à minha imagem e semelhança, com dedicação e perseverança.
Deu em três rainhas! E eu sou a Rainha Mãe!

3 comentários:

  1. Sempre tive medo do "três"! Nunca quis pagar pra ver... hahahahaha

    Já disse isso e digo de novo: vc é uma mãe FO-DA!

    Adorei! ;)

    ResponderExcluir
  2. Acredito que o seu trabalho (de uma vida inteira) valeu muito a pena, noites sem dormir, preocupação, receio, proteção...vê-se de longe o laço que envolve vcs 4 e esse ninguém desenlaça...
    Eu tive uma mãe maravilhosa, mas me espelho em vc tbm para se, um dia, quem sabe, Deus me der esse presente de me tornar mãe eu possa criar tbm um vínculo tão forte qto!!!
    AMEI, TIA!!!
    Bjsss

    ResponderExcluir
  3. No dois eu já estava longe!!! hahahahahahahaha

    Mamãe Rainha!! :)
    Beijos.Bee

    ResponderExcluir