quinta-feira, 3 de março de 2011

GRANDE TOM!

Ontem, assisti ao filme "Direito de amar", de Tom Ford.
Tardiamente, confesso. Resistia à ideia de um designer se atrever a roteirizar, dirigir e produzir um longa metragem.
Preconceito, desconfiança, antipatia, talvez, por terem incensado uma pessoa famosa do mundo da moda. Errei feio!
Não que o filme seja uma obra prima, não é. Mas é bom, um pouco lento pro meu gosto, mas esse é o tempo da personagem, talvez do próprio Tom Ford.
Gosto de filmes que me façam pensar sobre o que vi, avaliar a mensagem ou procurá-la.
O filme fala sobre perda, no caso, de um amor. Poderia ser qualquer perda, a vida é feita delas.
Mas fala, principalmente, do impacto que elas nos causam.
Da tentativa de assimilar ou negar, se entregar ou reagir, parar ou continuar.
Dualidade é a base da existência. Isso, aquilo, claro, escuro, sim, não, início, fim.
Partindo da premissa que Ford coloca " o passado não me interessa, o presente me entedia, o futuro sempre é a morte", em qual momento ele situa o filme? Nos três estágios. Esse ir e vir permeia o filme, na tentativa de definir o futuro, comandar o destino, explicar o possível desfecho. O filme mistura flashbacks, narrativa no presente e termina com o futuro chegando e, como sempre acontece, surpreendendo.
Mas não é um filme mórbido, sequer pesado, apesar do tema.
O tempo todo a personagem se prepara, detalhadamente, para o suicídio, para o que ela considera ser o alívio de sua dor. E vai se despedindo da vida sem emoções, sem sofrimento.
Mas a vida, espertamente, vai colocando desafios à sua frente, vai testando a determinação desse homem, aparentemente, decidido. A amiga, desesperadamente carente, que aceita qualquer coisa pra escapar da solidão, o garoto de programa que se oferece , o aluno sedutor e menor de idade que tenta desviá-lo ou aproximá-lo da ruína. E a falta do ser amado, que faz com que ele caminhe na borda do precipício.
E é aí que aparece a construção que esse homem fez de si. Em uma única cena, uma única fala, a personagem entende quem é. Quando o aluno diz que se aproximou dele porque ele é mais velho, portanto mais experiente, ele responde:-"Experiência não é o quanto você vive, nem o que acontece com você, experiência é o que você faz com o acontecido". E faz-se a luz ! Não importava o tamanho da dor que ele carregava, o amor interrompido, a tentação de corpos jovens, alugados ou oferecidos, nada disso o levava a ser o que não construiu em si. Teve todas as chances de se ferir e, assim, se dar motivos para se destruir, real e metafóricamente. Mas o que ele fez com os acontecimentos da vida? Aprendeu a seguir em frente, sem se machucar a ponto de se arrepender, sem precisar de subterfúgios para legitimar erros. Não era, definitivamente, auto destrutivo. Depressão não era sinônimo de morte. Sua tristeza era palpável e todas as possibilidades que teve de se matar moralmente, ele afastou com serenidade, entendeu que a solidão não é uma sentença ou uma licença pra fugir de seus problemas. Lidou com a experiência que se permitiu ter, aprendeu com sensibilidade a se desviar do fácil, da tolice, do prazer momentâneo, hedonista e indulgente.
Perder um grande amor (e não se perde só para a morte, quantos perdemos em vida?) não era  desculpa para desistir de si. Tinha todo o direito de estar profundamente triste mas, também, tinha a obrigação de viver o luto. Quando resolveu toda a sua guerra interior, a morte o surpreende e o liberta, sem que ele fosse o agente principal, mas mostrando a ele, e a nós que assistimos, que não há coerência em planejar a vida ou a morte, somos pegos de surpresa por alguma coisa ou alguém que não combinou conosco o tempo que precisamos pra viver e aprender.
Quantos velhos tolos e inexperientes andam por aí? E quantos jovens sábios? Prova que idade não dá diploma!
O que fazem conosco está fora do nosso controle, o que fazemos de nós é que deveria importar.
A vida se oferece, de graça, pra que aproveitemos esse tempo, que será sempre curto pra terminarmos tudo que queremos fazer. Se oferece pra quem quer tirar dela ensinamentos, lições, oportunidades, mesmo na tragédia, no infortúnio. Nada se desperdiça se não desviarmos a atenção do futuro de todos nós.
Por isso gostei do filme, porque, também ele, me ensinou que o presente, mesmo que seja tedioso, problemático, triste, abre sempre uma janela para aprendermos alguma coisa e usá-la a nosso favor.
Basta enxergar e não se deixar toldar, caminhando para o mais fácil, que é sentir pena de si mesmo.
Consciência é irmã da experiência. Sempre preferi a consciência à felicidade, porque só me entendo feliz se tenho consciência do momento de felicidade que vivo. E minha experiência (quanta arrogância!) é a memória da minha vida, do que ando fazendo dela. Acho que aprendi, um pouco.
E aprendi com Tom Ford que o preconceito de recusar o inesperado, o novo, o desconhecido, quase me fez perder uma experiência muito gratificante.
Grande Tom!

Um comentário:

  1. Agora preciso ver o filme todo! Esse post é pra ficar gravado nos Favoritos pra reler sempre, Angelous! ;)

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