sábado, 16 de abril de 2011

BIRINIGHT

Dia raiando, tênis chamando.
Vou fazer minha obrigação matinal, embora, todo santo dia, acorde dizendo que vou "matar" a caminhada.
Com preguiça e culpa por pensar, sempre, em adiar o que é bom pra saúde, visto o uniforme oficial e surrado da malhação.
Lá vou eu, ajudando o meu dia a nascer.
Depois de cumprida a tarefa, paro, como sempre, na Reserva. Sento no banco que já começa a tomar a forma de minha anatomia.
Agora, me sentindo endorfinada, respiro.
- Smirnoff, Orloff, peguem a bolinha!
Essa Reserva é um espanto! De onde menos se espera, vem novidade.
- Oh, bom dia, dona Angela, vim dar um passeio com minhas meninas.
- Bom dia, Pedro.
Sempre que o vejo, lembro da música do Chico. Pedreiro, também, esse Pedro.
Trabalha na obra em progresso que é esse condomínio.
Vem acompanhado de um amigo, que me apresenta.
- Esse aqui é o Osvando, mas chamam de Alex, porque ele não gosta do nome.
- Não gosto, não, senhora.
- Por que? O que há de errado em se chamar Osvando?
- É que pobre tem mania de juntar nome de pai com o da mãe. Sai, sempre, nome feio.
- O seu é um palavrão, debocha Pedro.
- Quais são os nomes de seus pais?
- É Osvanir e Vanda. Pensaram em Vandosvani, acabaram botando Osvando.
- Menos mal, né, dona Angela?
- Não tem nada errado no seu nome.
- É, mas não gosto, não. Prefiro Alex.
Não perguntei o por que da preferência, fiquei com receio da explicação.
- Você trabalha na obra?
- Trabalho, sou ladrilheiro.
Smirnoff (ou seria Orloff ?), vem fuçar meus tênis, talvez sentindo o cheiro do meu cachorro.
- Sai daí, menina, deixa a madame em paz.
- Ela não me incomoda, Pedro.
- É que tem gente que não gosta.
- Sou cachorreira, não se preocupe. E elas são mansinhas. Que bom que você cuida delas com carinho, isso é raro, hoje em dia.
- Só podia botar uns nominhos mais bacanas, a senhora não acha?
- Agora deu pra implicar com tudo que é nome, Alex?
- Implico com nome de pobre.
- Que nome de pobre? Qual é o pobre que tu conhece que tem o nome das  minhas cachorrinhas?
- Graças a Deus, nenhum. Já imaginou, gente com esses nomes? E não são nomes nem de mulher, nem de homem.
- Por que?
- Tudo termina em off, ninguém se chama Rodrigoff ou Marlenoff.
- Mas teu apelido  termina em ex. Alex.
- Mas o nome, mesmo, termina em o. Macho.
- Não quer dizer nada.
- Rapaz, mulher termina em a e homem em o.
- Vou dizer um nome e tu me diz se é homem ou mulher. Darcy.
- Acho que é homem.
- Errado, mulher. Minha tia Darcy.
- É, seu Osv... Alex, nome pode confundir, digo, metendo o nariz sem ser chamada.
- Quero exemplos, Pedro.
- Sei lá, Lair, pode servir pros dois.
- Tive um médico chamado Sirley. Na primeira consulta, levei um susto, a porta do consultório abriu e eu não esperava um homem. Meu outro médico, muito querido, se chama Nadir.
- Nadir, madame? E é homem, mesmo?
- Claro que é! E dos mais interessantes que conheço.
- Mas que é esquisito, é. A senhora tem que concordar.
- Alex, vamos deixar dona Angela em paz. Tamos tomando o tempo dela.
- Aí, desculpe, não queria incomodar.
- Não, Alex, vocês não estão incomodando.
- Mas a gente tem que voltar pro batente. Só vim dar uma voltinha com elas. Bicho sente falta do passeio.
- É verdade, igual a nós.
- Só que a gente se leva, né? Eles precisam da gente.
- Pedro?
- Senhora?
- Fiquei curiosa, por que Smirnoff e Orloff?
- É, Pedro, por que tu não botou nome estrangeiro?
- Primeiro quero dizer, Alex, que elas têm nome de mulher, sim.
- Ah, é?
- É. Elas têm nome de vodca, a vodca, não é o vodca.
- Por que não botou vodca estrangeira, tipo, Absoluta e Vigorosa? ( Acho que ele quis dizer Absolut e Wyborowa).
- Porque não sou metido a besta que nem você. Depois, Absoluta e Vigorosa é coisa de travesti.
- Mas, afinal, por que, Pedro?
- Porque, dona Angela, minhas meninas são vira latas.
- De luxo, né, Pedro? Devia botar os nomes de "Caninha e Pinga".
- Não adianta, OSVANDO, tu implica com qualquer nome. Vam'bora.
- Prazer, madame, se precisar dos meus serviços, é só  falar com o Pedro.
- Tenham um bom dia, a gente se vê.
- Com certeza, madame. Bom dia pra senhora.
- Vamos Smirnoff, chama a Orloff!
E voltam ao trabalho, seguidos por suas biritas.
Agora, me digam, como vou poder ouvir essas bebidas serem pedidas, sem ter um acesso de riso?

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