quinta-feira, 21 de abril de 2011

ANTES QUE EU ESQUEÇA

Ando incomodada com algumas lembranças indesejadas.
Resolvo encarar uma boa faxina interna.
Tarefa hercúlea, mexer e remexer o baú da memória.
Passado é aquele incoveniente que, de vez em quando, bate à sua porta.
Todo passado assombra, exige solução. Guardar ou atirar às traças?
O que não tem solução, solucionado está!
Não devo me prender ao que não depende de mim, ou que não depende só de mim.
Deixo ir, escorrer, esse tempo que retive, por não saber o que fazer dele.
Quanto menor a bagagem, mais leve a vida.
Bagagem extra, aquela que carrego esperando, um dia, resolver, essa vai desaparecer.
Ela só serviu pra criar mofo e dificultar a respiração.
Mágoas, amores mal resolvidos, pendências que carreguei pela vida, só a mim fizeram mal.
Retiro do quarto de guardados, direto pra lixeira. São despejados e esse espaço interno será limpo e arejado.
Não pensarei se vale a pena preservar, não serei um museu dos horrores, exibindo em minhas paredes as cicatrizes, as dores, o sangue que perdi. Essas batalhas já foram travadas e se não ganhei, paciência.
Se a memória pode selecionar, vou fazê-lo a meu favor. Incomodou? Desapontou? Feriu? Lixo!
Precisei de muitos anos pra, finalmente, entender que ninguém é culpado pelas minhas inseguranças, meus temores, meus amores frustrados, minhas loucuras.
Se guardei tudo isso, cabe a mim eliminar, desinfetar o porão e não visitar, nunca mais, o lugar que eles habitavam, aprender a desviar do que me faz mal, não permitir que novos visitantes preencham, novamente, o que levei tempo pra expulsar.
Chateação guardada é página virada!
Diariamente, sem dúvida, surgirão probleminhas, a eles darei a dimensão exata e resolução imediata.
Os que forem, realmente, problemas, tentarei resolver da forma mais rápida e indolor possível.
Alguns levarão mais tempo de digestão, talvez precise me focar neles um pouco mais que o desejável, mas não serão deixados em banho maria, não tenho mais tempo pra ruminações. Problema velho, não resolvido, mal resolvido ou meio resolvido, fora! Assimilado! Check!
Feito isso, darei espaço ao prazer. Usarei a parte boa da minha história pra ser lembrada e, assim, oxigenar o ambiente mental. Essa é a parte da faxina em que vou espanar o pó, lavar as porcelanas, varrer o chão e lustrar os metais, fazer brilhar minha melhor e mais feliz memória.
Lembrar das coisa boas que a vida me deu e das que conquistei.
Lembrar dos amigos de sempre e da vida que, em algum momento, compartilhamos.
Lembrar das pessoas que me ajudaram a ver melhor o caminho por onde andei.
Lembrar das pequenas coisas que deram sentido a minha trajetória.
Lembrar das escolhas que fiz e não lamentei. Embora algumas tenham sido erradas, elas fizeram de mim o que sou.
Lembrar que a vida me deu mais alegrias que tristezas.
Lembrar de esquecer as dores.
Lembrar dos momentos em que Deus se manifestou em meu mundo. Particularmente, no nascimento de minhas filhas.
Lembrar que sou merecedora e jamais devedora.
Lembrar que minha felicidade depende de mim e de como atuo diante dos abalos emocionais.
Lembrar que, em uma guerra, sempre há um vencedor, acreditar que, se fui vencida, não foi uma batalha perdida. Talvez aquela não fosse minha guerra particular.
E lembrar que, a vida sendo uma só, tem que ser vivida de verdade, com verdade e, principalmente, com prazer, amor, gratidão e bondade.
Lembrar que, lambidas as feridas, curado o mal, afastada a doença, tenho que ser uma pessoa melhor.
Pelo menos, até que me esqueça de lembrar!

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