quarta-feira, 4 de abril de 2012

DAS AFETAÇÕES

Amar. Verbo transitivo.
E, por ser transitório, efêmero.
Conjugado por duas pessoas, unindo uma à outra.
Diz-se que amar emburrece, embrutece, enlouquece.
Prefiro o amor que aquece, protege, amansa.
Sou romântica, por fim admito.
Amar é uma benção particular, uma oração codificada, um canto gregoriano, a liturgia dos amantes, uma celebração do encontro. Hosana nas alturas!
As afetações românticas, infelizmente, trazem consigo outras afetações contrastantes.
Ciúme, posse, desconfiança, medo, cobranças, exigências descabidas e, então, o efêmero acontece.
Seria ingênuo acreditar que o amor não traz transtorno emocional.
O ajuste entre as pessoas afetadas é processual e, no processo, pode-se perder a segurança inicial.
Personalidades distintas, vidas diferentes, hábitos incompatíveis se misturam ao amor e enfraquecem a confiança.
Lutar pelo que se quer fica mais difícil, quando entram em campo os soldados das defesas.
Defendemos o direito à individualidade, às opiniões, às vontades e necessidades.
Exigimos respeito à essas afetações, entrega, como se, do dia para à noite, fosse possível trocar de pele, de história.
Boicotamos as possibilidades por absoluta irracionalidade.
Se pensarmos que, ao amar o outro, abrimos mão de nos amarmos, não existe afetação, existe carência. E carência não conjuga com o verbo amar.
Se estou sendo amada, como posso estar carente?
Se continuo carente, não confio nesse amor.
Se não confio, cobro, brigo por espaço e, nessa luta, desisto.
É mais fácil amar do que ser amada.
Quando amo, despejo afeto, escolho as palavras que me façam ser melhor entendida, tenho cuidado, respeito, carinho, procuro não magoar, tento equilibrar os desacertos, não invado, peço licença prá entrar e repartir o espaço emocional que conquistamos. Mas eu sou assim, o outro é assado.
Quando sou amada sou cobrada por essa afetação, como se fosse culpada por ter feito alguém gostar de mim, como se não quisesse e eu obrigasse a querer, sou responsável pelo amor que o outro sente.
Cai no padrão de suas escolhas e, consequentemente, de suas experiências. Não se dá a chance de mudar e viver outro tipo de amor, mais maduro, menos urgente, mais sério e, talvez, mais prazeroso.
Amar sem obrigações, amar só pelo prazer de estar, ter, ficar com quem se quer
Amor acontece, é química, não é premeditado.
Amar não escolhe, a única escolha é ficar ou não com esse amor.
Eu prefiro ficar mas entendo quem não tenha capacidade de lidar com as faltas que o amor traz.
Falta de ar, falta de presença constante, falta de coragem de se entregar, de se atirar do penhasco, de dançar um tango argentino e, talvez, gostar.
Dividir essa afetação, distribuir aos amigos e contagiar quem está em volta, percebendo, intuindo o amor emanado, é um sinal de generosidade que só o amar verdadeiramente é capaz de emitir.
Condicionar amor unicamente a presença física é diminuir o próprio afeto. Este resiste à ausência, à falta, até à morte.
Amar, ensina. Amar, não prende. Amar, conforta. Amar, não julga. Amar, não ofende.
Amar, por fim, dignifica e pacifica.
Amar é verbo. Transitivo ou transitório somos nós, até que me provem o contrário.

Um comentário:

  1. verbo e portanto,conjugar amando no correto, eu, tu e nunca com ele, uma obstinação de quem deseja apenas os dois, unidos sem interferências.

    Terceiros, fora!

    Não sei se prende , solta, julga ou não, ofende ou não, sei lá, pois ainda não cheguei a tal perfectabilidade desejada pelo idealismo, eu simples aprendiz, sem formação superior nesta matéria.

    E no amor sou mais levado do que levo, mais atraído do que atraio, sensibilizado mais do que sensibilizo.

    Quer que eu minta?

    Apesar destes óbices, embaraços e estorvos de competência, tenho a certeza que um dia ainda chego lá.

    Ainda confio na generosidade dos deuses.

    Pricipalmente, da minha deusa!

    Um abração carioca.

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