quinta-feira, 5 de maio de 2011

HOUSTON, TEMOS UM PROBLEMA!

- Não é você, sou eu.
E lá vamos nós.
Preparo meu traseiro pra levar o chute potente.
E ele vem, certeiro.
Me projeta pros quintos do inferno, sem piedade.
No espaço sideral em que me encontro só há o silêncio.
Nenhuma justificativa que me aponte uma resposta.
Não deve haver, mesmo. Deixa-se de gostar, acabou.
Estranho, não sinto a angústia de antes, que me apertava o peito, me tirava o sono, a fome.
As lágrimas sofridas e incontroláveis já não brotam em meus olhos.
De onde estou, experimento a claridade dos sentidos. Percebo, analiso. Enxergo acima dos motivos alegados.
Os rompimentos anteriores me calejaram, me ensinaram que não existe a incerteza do amanhã.
Por mais traumático que seja o hoje, o dia vai nascer sem levar em conta a noite que teima em ficar na alma. Embora se possa morrer de amor, e tem gente burra que, literalmente, morre de melancolia, o amanhã não percebe sua falta no mundo. A vida continua sem você, sem mim, sem qualquer um de nós. Aprendi que não se anula a dor, ela é como um hematoma que vai ser absorvido em seu devido tempo. Vai se desfazer e sumir dentro do meu corpo, se misturar às outras experiências que anoto em minha vida.
Lá, no alto em que você me atirou, percebo, com mais nitidez, os contornos e reentrâncias que limitavam minha visão.
Saí de órbita, como um foguete, pra perceber que sempre orbitei em volta de alguém. Andava em círculos, esperando proteger minhas fronteiras, achando que cercava com cuidados a pessoa que eu amava. Não via que corria atrás do próprio rabo, fechando meu mundo, fazendo com que nele habitasse só um ser e não era eu, era o outro.
Hoje sei que sou e sempre serei o número um, único, indivisível.
Mesmo estando rodeada por milhares, seremos milhares de um.
Não existe metade de laranja, alma gêmea, compatibilidade que mude isso.
Nascemos e morremos sós, e vivemos buscando o par. Não vai fazer a menor diferença essa procura. No final do dia, quando fechamos os olhos pra dormir, estamos sós.
Você foi mais uma tentativa de negar o número mágico.
Não se trata de me conformar com o fato de que sou só, é a constatação de que preciso ser feliz comigo e não depender de outro pra me fazer completa. Sou uma, sou única e devo me bastar.
Não preciso, ou não devo precisar, do olhar do outro pra existir. Quem quiser habitar meu mundo vai ter que aprender a viver ao lado e não dentro de mim. Aprendi a duras penas. mas aprendi.
- Houston, temos um problema!
E ele é imenso.
Estou voltando à terra, sei que posso me desintegrar se não fizer um pouso planejado e suave.
Preciso de um plano pra dar os passos que me trarão de volta.
Mas tenho fé em mim, vou pisar em terra firme e caminhar sobre meus próprios pés.
No fim, você me fez um favor.
Me fez enxergar, definitivamente, que meu solo não desaparece, que flutuar, de vez em quando, não me tira a certeza de que tenho meu chão, de que o ar que me envolve é tudo o que preciso pra me deslocar. Não preciso do outro pra existir, preciso de mim, inteira, única, uma.
Você estava errado quando deu a indefectível desculpa, porque não era você meu problema, era eu.
- Houston, terra à vista, pousando!

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