terça-feira, 10 de maio de 2011

DIAMÃETE

Dia das Mães.
Atrasada, como sempre, escrevo sobre essa data.
Penso nessa responsabilidade escolhida e, algumas vezes, delegada.
Fui aluna nessa escola, continuo sendo, no nível superior.
Filhas adultas elevam o nível de dificuldade.
Quando engravidei, fiquei apavorada e feliz, não sei qual sentimento predominava.
Pra começar, achava que não conseguiria engravidar, tinha certeza que meu corpo ia trapacear e dificultar a gravidez.
Bem, ele funcionou à contento, três vezes, sem nenhum tratamento fertilizante.
Mas a primeira vez é sempre aflitiva.
Será que vou conseguir cuidar de uma pessoa completamente dependente de mim?
Conseguirei entender suas necessidades?
Decifrarei seus choros, suas dores?
Esse choro seria dor de barriga, de ouvido, fome, sede, frio?
Insegurança teu nome é mãe!
E aí, de repente, sem aviso prévio, a criança nasce.
No meu caso, sem aviso mesmo, não senti nada. Dor, bolsa rompida, contrações ritmadas, nada.
Em nove meses, por três vezes, nenhum sinal de que elas estavam à caminho.
Evidente que fiquei feliz, ela estava bem, era perfeita, tinha dez dedos nas mãos, dez nos pés, nenhum problema físico, saúde perfeita e pulmão excelente.
Mas eu só havia parido, não era mãe, ainda.
Enquanto estava hospitalizada, tudo era fácil, só me ensinavam a amamentar, coisa pouca, já que ela devorava meus seios. Ainda assim, achava que não teria leite, que ela morreria desnutrida.
Mais uma vez, meu corpo me surpreendeu e me transformou em uma vaca leiteira. Amamentei todas elas e por longo tempo.
Mas seria isso, ser mãe?
Não era, não, isso era ser ama de leite, mas era menos uma insegurança. Eu era capaz de alimentar com meu leite.
Quando me vi só com minha cria foi que começou a aparecer a mãe.
E apareceu provocada pela criança que me colocava enigmas, vinte e quatro horas por dia.
Meus sentidos ficaram apurados, minha atenção era redobrada, meu tempo tomado, minha vida invadida. Bebê esgota, suga o seio e a existência. Mas aquela criança estava ali porque eu escolhi tê-la e precisava de mim pra cuidar dela, protegê-la, acarinhar seu corpinho indefeso, acalentar seu sono, remediar suas dores, confortar seu choro. E fui aprendendo a ser mãe.
Só agora entendo que instinto maternal é coisa de reino animal. Os humanos precisam se despojar de seus interesses, seu tempo, seu lazer, sua vida, por um grande tempo, talvez para sempre.
Não é abdicar de si, é viver com. O xis do problema é que humanos pensam e complicam.
Ser mãe é vocação, não adianta cobrar de quem não tem. Acho que deveria haver teste vocacional nessa escola, alguns desastres seriam evitados.
Quando me tornei mãe?
Evidente que não foi quando a primeira nasceu. Mas ela foi o bê a bá, foi meu dever de casa, em casa.
Me senti mãe quando não consegui me afastar dela, na primeira vez. Sai e voltei da porta, achava que ninguém iria entender o que ela queria, que só eu seria capaz de traduzir seu choro. Ledo engano. Era eu quem precisava dela, de tê-la ao meu lado. Precisava do que ela me dava, seu olhar, suas mãos agarrando meu seio, seu corpinho quente contra o meu. Entendi que não se nasce mãe, o amor é conquistado, oferecido e doado`. É uma via de mão dupla.
Ser mãe é um trabalho duro, nunca mais se dorme em paz, nunca mais se baixa a guarda, nunca mais se coloca em primeiro lugar. E, ainda assim, ama cada dia mais.
E minha vocação foi ficando mais forte, me descobri mãe.
A escola foi ficando mais complexa, mais desafiadora e eu mais aplicada.
Quando a segunda nasceu já me sentia mais segura, mesmo sendo diferente da primeira, era mais calma. Ou seria eu a ter mais tranquilidade? A terceira, me ensinou novas matérias, endiabrada, levada, arteira que era. Tive que inventar uma mãe pra cada.
São os filhos que nos dizem que mãe seremos, nos ensinam qual lição precisa ser mais estudada, qual dever deve ser mais aprofundado, são nossos orientadores.
Por isso não comemoro dia das mães, todo dia é nosso dia, todo dia é dia dos filhos que nos tornaram mães. Um não seria possível sem o outro.
Hoje, que Deus me ajude, tenho muitos filhos, de barriga e coração. Todo dia tenho um novo filho que agrego à minha extensa prole. 
Sou mãe em tempo integral, não porque preciso ser, mas porque gosto de ser. Adoro ser desafiada, ainda, pelos seus choros. Embora adultas, continuo na escola, ajudando a solucionar problemas, decifrando novos códigos, buscando alívio pra dores existenciais que parecem impossíveis de serem resolvidas.
E tenho meu lazer com elas, meu recreio, onde brincamos, rimos, nos divertimos juntas.
Minhas filhas me lapidaram, transformaram minha pedrinha sem valor em diamãete.
Feliz Dia das Mães. Feliz Diamãete.

2 comentários:

  1. Super apoio o teste vocacional!
    Quando for mãe, quero ser diamãete também! rs

    Orgulho de ser sua "filha", Angelous!

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  2. O problema é que qd os filhos crescem os problemas crescem tb! hahahahahaha Vc é meu diamãete, Angelous!! ;)

    Nana

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