sábado, 18 de fevereiro de 2012

FUGA

Não é que eu seja exigente, sou seletiva.
Tentam me vender gato por lebre e acham que vou engolir.
Não aceito que me empurrem, goela abaixo, menos do que me devem.
Sei que, às vêzes, tenho mais do que preciso, mais afeto, mais paciência, mais jogo de cintura, mais espaço e, em determinadas ocasiões, menos, muito menos.
Acham que amar basta mas, meu caro, amar não basta. Em todos os sentidos.
Amar não é determinar o que o outro merece. Amor é verbo conjugado a dois, sem esquecer que o parceiro é um indivíduo e não metade. Não sou meia pessoa, não sou sombra de ninguém.
Não admito que sombreem minha vida, assim como não permito que qualquer pessoa se deite em minha sombra.
Nunca enganei ninguém, o que se vê é o que se tem. Nunca fui de jogar prá ganhar, sempre fui transparente.
Amar é laço, não é nó.
Se apertam o nó, falta oxigênio e sem respirar, morro.
Todo início de relação deveria ser o momento de usar o manual de instrução:
1° passo: Não esqueça que o produto é frágil, cuidado quando manusear!
2° passo: Quando o aparelho super aquecer, se afaste por algum tempo para que ele esfrie.
3° passo: Não deve ser usado diariamente para não haver desgaste.
4° passo: Use com moderação e atenção para mantê-lo em perfeito funcionamento.
5° passo: Quando precisar de assistência técnica, talvez seja o momento de trocá-lo.
6° passo: Em caso de troca, mantenha distância do antigo.
Isso evitaria muita dor de cabeça.
Desconfiei que nosso produto estava deteriorando quando começou o cuidado extremado, o interrogatório, o controle.
Saiba que nem a mim dou satisfações do que faço. Se não é imoral nem ilegal, faço.
Nunca te trai e confesso que você merecia. Acontece que não sou assim, não sei começar nada sem terminar e enterrar o que passou. Até porque, o próximo não tem que pagar as penas do anterior. Se vou prá uma relação, vou zerada. Seria um desperdício de tempo e energia ficar cobrando os erros de uma outra pessoa. Cada relação tem um código, escrito pelos que estão nela, acordado pelas partes.
Ainda não nasceu quem me diga o que posso ou não posso, devo ou não devo fazer. Não sou maluca nem impulsiva, uso meu cérebro e os limites dos outros prá perceber até onde posso ir sem arrombar a porta da privacidade.
Respeito silêncios e sumiços, melhor não falar quando não se tem nada prá dizer, bem melhor sumir quando falta espaço, quando o garrote sufoca.
Não sou criança prá que me digam onde posso ir, com quem devo estar. Sou criança quando me divirto, quando escancaro o riso e brinco, gosto de brincar.
Sou responsável por mim e não sou deficiente emocional, não preciso de bengala prá apoiar meus desacertos. São meus e deles eu cuido.
Mas, também, não sou analista de plantão prá que despejem em meus ouvidos as agruras de uma vida muito mal resolvida.
Não que a minha seja sem problemas, ela é cheia deles, mas, por favor, estar com alguém deveria ser mais prazeroso e menos enfadonho e repetitivo.
Todo mundo tem seu dia de raios e trovões, cansei de me ensopar nas minhas tempestades emocionais, me lanhei em relações espinhosas, sangrei com cortes secos, mas lambia minhas feridas e esperava cicatrizar sem alugar um incauto qualquer.
Não uso afeto como peça de reposição, sai um entra outro. Não sofro dessa carência, graças a Deus.
E aprendi a sair com elegância em qualquer situação, chutando ou sendo chutada.
Você foi propaganda enganosa, vendeu o que não tinha, mostrou o produto maquiado.
Foi o próprio "médico e monstro", início gentil, divertido, atencioso, e se transformou quando me envolvi e confiei.
Sou difícil de ser enganada mas você conseguiu. Que ator! Que talento desperdiçado!
Como não sou platéia, sequer aplaudo.
Se vale o conselho, não pese a mão na próxima, deixe espaço prá respirar, enterre os fantasmas de outras que passaram em sua vida, enxergue com outros olhos seu próximo amor, faça com que ele seja leve, suave, escolha ser feliz, despreocupado. Ninguém fica com ninguém, se não quiser, não adianta forçar, perde o encanto, perde o prazer, a espontaneidade, perde a razão de amar.
Construa uma vida com espaço suficiente prá dois, deixe portas e janelas abertas, assim, vendo que se tem liberdade, sempre se escolhe ficar.
Eu escolhi partir e, ao sair, espero ter fechado prá sempre a porta estreita por onde escapei.

Um comentário:

  1. Oi Angela ,

    chegando agora do carnaval mais lindo do mundo que, agora voltou a levar para as ruas o povo, expressão maior de tudo, contra aquela ditadura pífia e chula dos bailes e desfiles de fantasias do Teatro Municipal.

    As ruas estão entupidas de blocos maravilhosos, ordeiros e organizados bem desorganizdamente,e até que enfim, voltamos a ser cariocas.

    Então, abro seu blog, leio e releio.

    Incrível como uma mulher consegue falar tudo aquilo, que do meu teclado, jamais sairia.

    Fascinante!

    E na qualidade de um dos componentes do seu respeitável público, levanto e aplaudo demoradamente, repitindo o mantra que o autor da peça distibuiu na entrda do teatro, sobre o amor:

    "Fica tranquilo, amor não é cadeia, se prende não é amor. Amor cativa, querer ficar junto é consequencia".

    Mantra poderosamente, eficaz e definitivamente libertador.

    Pensa que só os envangélicos é que dão testemunhos?

    Ledo engano!!!

    Um abração carioca.

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