domingo, 5 de junho de 2011

AGENTE 00.......

Waldyr. Doutor Waldyr.
O agente 001 da minha vida.
O primeiro homem a me tocar, a me ver nua, indefesa.
O homem que me trouxe à vida.
Foi ele o primeiro a me dar um tapa na bunda, a ter essa intimidade comigo.
O primeiro a me fazer chorar.
Foi, também, o primeiro que enfureci com minha demora em aparecer.
Atrasei nosso encontro por dois dias, longos e suados.
Ele precisou sentar sobre minha mãe pra empurrar e forçar a minha saída.
Eu estava dormindo, confortável, sem saber que me esperavam do lado de fora.
Ele era o médico de família de meus avós e, depois, de meus pais.
Em meados do século passado, essa profissão existia de verdade.
Pneumologista, em uma época em que a tuberculose matava.
Mas era um tempo em que a especialização não era fechada em nichos, tinha-se que saber clínica geral.
E ele sabia do seu ofício, por inteiro.
Taí a resposta que você queria, aquela pela qual você me bombardeava, sem piedade.
Quem foi o primeiro homem de sua vida?
Pois foi ele.
Agora, se quer saber quem foi o mais importante, esperando que tenha sido você, lamento informar que não foi. Não é.
Para que uma pessoa seja a mais importante na minha vida, há muitos requesitos a preencher.
Por exemplo: posso viver sem ela? Bem, vivo sem você.
Preciso dela pra existir? Definitivamente, existo sem você.
Ela é a razão da minha existência? Meu querido, ela é muito mais rica do que você imagina, seu poder de compra não chega perto do que ela necessita.
É meu ar? Meu chão? Meus sentidos? Minha luz? Meu motivo pra acordar todos os dias?
Você, com certeza, não é.
Não procure ser aquele que me faz falta, pois não faz.
Não tente me fazer sentir culpa pelas respostas que não posso dar.
Não dependo dos seus olhos pra me guiar, não dependo de sua mão pra me conduzir.
Não acredito que uma pessoa possa se anular, a ponto de depender do afeto do outro pra, simplesmente, ser.
Gostar não significa se despir de sua pele pra vestir a do outro.
Você, talvez, esperasse de mim uma rendição total, que eu dissesse que era a pessoa mais importante da minha vida.
Respondo que a pessoa mais imprescindível da minha vida sou eu.
Só eu me conheço profundamente, completamente.
Só eu me faço falta, me empurro, me afasto dos perigos, me entrego a mim.
Só eu me amo sem cobranças, sem medo, sem vergonha.
Quando tenho alguém ao meu lado, me divido com ele, mas não abro mão de mim.
Meu espelho sou eu, não me perco em outra imagem.
Portanto, não queira ser o fundador da minha vida. Deveria bastar estar com você, mas não esqueça que não sou sua. Sou minha e vou ser sempre.
O primeiro homem foi importante porque me ajudou a chegar à vida, mas isso não fez dele meu dono.
Os outros que tive foram importantes, em seu devido tempo.
Você está sendo, por enquanto.
Mas, entre o transitório estar e o definitivo ser, eu sou a pessoa mais importante em  minha vida.
Waldyr. Doutor Waldyr, foi o agente 001.
Eu sou  a 000.

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